A arte de galeria já nada me diz; mesmo esta sensação de abdicar expondo me incomoda.
Este adeus é uma homenagem e um repúdio bem condensadinhos.
A exposição não precisa de texto explicativo. Explica-se a si mesma. Vou-me embora.
Esta exposição é diferente?
É porque aqui vocês têm todos direito a um olá. Esse direito foi sublimado pelo título.
Um olá protege cada vida de ser tomada pelos nefastos excessos da personalidade, em estreita colaboração com um adeus.
O adeus e o olá confundem a comunidade, misturam rituais e poses, são dela mesmo a consumação simbólica.
Não saberei explicar porque vou dizer um adeus?
Gestos que nos abrem as palmas da mão, que nos rubram o encostar da bochecha, que arejam o sovaco, que exprimem um polegar, que nos juntam o peito ou dedam os ombros.
O meu psicopompo não é mais o Sol.
Mas quem sou eu para contrariar a esfera que se combusta quando cresce e quando minga?
Espero respostas da galeria enquanto a pergunta é atropelada.
Sem espaço para perguntas (as perguntas surgidas e não as accionadas) esta galeria não será mais que uma caixa de Skinner.
Câmara de condicionamentos. Imaginem que retiramos as alavancas e as cores, os condicionamentos, e ficamos com a câmara assim, vazia, para nós. Assim com um vernizinho catita.
Uma lanta da ressurreição.
Pombos e ratos questionam a sua condição;
o ar do tempo rodopia na sala da festa emblemática semanal, de onde caem as mãos que ignoram ainda o aceno que situa o tempo no horizonte.”
“Que subsista o Sol agora para trabalhar a eventualidade.
Não para criar conceitos temáticos que encabeçam ricas exposições (eventos).
Que mantenha actividade corporal minimamente quente na eventualidade de algo correr muito mal e ser preciso utilizar os seus galões e experiências acumuladas.
(ex. regimes autocráticos ou por aí fora ou invasão alienígena ou tufão enorme ou os mortos regressarem ao território dos vivos).
A Deus, vos recomendo”
*excertos de texto escrito na parede da galeria.
bio
Nasceu no Porto em 1986.
Licenciado em Pintura pela FBAUP. Mestre em Práticas Artísticas Contemporâneas pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto.
Trabalha com tudo o que lhe apetece, numa atitude que varia entre uma abordagem profissional e amadora. Entre as exposições mais recentes, destacam-se: “Ici n´est pas là. La Permanance”, ClermontFerrand, França e Rua do Sol 172, Porto, Portugal (2013); “Qualquer coisa”, Museu da FBAUP, Porto, (2012); “Vestígios de um tempo imediatamente antes do fim” (2012); “Pinturas de Guerra”, Exposição concebida com Vítor Israel na Rua Duque de Saldanha, número 26, no Bonfim, Porto (2012); “Na casa com”, Uma iniciativa colectiva de artista na freguesia do Bonfim, Porto (2011)