Every Square Meter of the Earth
Carmo Azeredo e André Covas
Este mundo é cada vez mais pequeno.
A nossa domesticação do planeta, ou antes a frenética conquista de todo e qualquer pedaço de terra, espremeu já quase tudo o que se poderia chamar ‘selvagem’. E através deste encolhimento de habitat, acompanhado por vidas cada vez mais urbanas, entramos aparentemente num estado no qual o mundo natural não nos é mais familiar. Como se já não lhe reconhecemos a própria prosperidade vital que procura ser. Vemo-lo antes como algo que serve os nossos desejos de consumo, ou algo que devemos desesperadamente tentar preservar tal como é.
Estas duas posições são completamente compreensíveis, a primeira por procurar melhorar o habitat da nossa espécie e a segunda por, em reação à primeira, tentar evitar a destruição absoluta do ecossistema da terra. Mas ambas perpetuam uma imagem especifica de natureza. Uma natureza objecto, desconectada da nossa existência, ou uma ‘natureza pura’, intocada, que em algum momento foi perfeita, e que nós humanos colocamos em perigo. Uma imagem de natureza que apresenta a possibilidade de Édens modernos, e a subsequente emoção de poder preservar os últimos paraísos da terra enquanto consumimos outros. Mas pode a nossa ideia de natureza verdadeiramente ignorar-se a si mesma?
Esta exposição explora a noção de natureza e o choque entre o mundo humano e o mundo natural, atravessando conceitos tais como o natural e anti-natural, pureza e realidade, vencedores e vencidos, a condição selvagem, esgotamento e abandono, deslocação de vida, a conquista sistemática de territórios e o processo de sobreposição do novo em cima do velho.
bio
ACCA é um duo artístico multidisciplinar português, atualmente sediado em Madrid, formado por André Covas (designer e músico, natural de Braga) e Carmo Azeredo (artista plástica e produtora, natural do Porto). Através da complementaridade das suas bases profissionais, juntos exploram o cruzamento entre arte, música, design, tecnologia e pensamento crítico, produzindo ensaios visuais sobre algumas das inquietações e curiosidades que partilham sobre a atualidade.
As reflexões artísticas que têm vindo a produzir, desde finais de 2017, dialogam com temas como a democracia digital, os vieses cognitivos, a era da pós-verdade, o conflito entre o desejo de liberdade e a necessidade de controle, o antropoceno e a construção contemporânea de natureza, entre outros. A sua prática artística desenvolve-se de forma variada, privilegiando o uso do som, texto, imagem, novos médios, design, produção escultórica e o formato de instalação.
Colaboram e fazem parte do coletivo Campanice e da associação cultural Saco Azul, ambos no Porto, e recentemente abriram em Madrid um pequeno estúdio/espaço independente de arte e design, com o nome ACCAstudio.
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