A prática multidisciplinar de Hernâni Reis Baptista tem vindo a cruzar meios diversos como a instalação, a escultura ou o campo expandido da imagem. São transversais ao seu trabalho, de modo mais ou menos explícito, preocupações em torno das relações humanas e mais-que-humanas, mas também da dimensão artificial da vida contemporânea, remetendo para o uso do corpo como veículo para pensar a performatividade no contexto social. Esta complexa relação com o mundo tem vindo a ser explorada de diferentes formas, tendo como base as suas experiências e interações, mas também as vivências próximas a si. O seu trabalho materializa-se a partir de uma constelação de interesses que por vezes se cruza, toca ou afasta: a superfície, a ruína, o reflexo, a contradição, a ilusão, a sobrevivência, a camuflagem, o animal, o vegetal.
As superfícies que nos cobrem, sejam a pele o pêlo, a maquilhagem ou a indumentária, têm servido como base para pensar a complexa relação do corpo com o mundo.
A armadura, como defesa; a maquilhagem, como mecanismo de camuflagem; o aperfeiçoamento físico ou digital como domínio, transgressão, prazer ou submissão.
Primeiras, segundas e terceiras peles, que são como que diferentes caras para diferentes momentos, aludindo à dimensão artificial da vida contemporânea. As marcas naturais do corpo, ou as infligidas pelo toque ou embate, também conduzem a uma procura pelas mesmas marcas na superfície da terra, quiçá numa tentativa de voltar ao que de mais natural ou instintivo existe: a conexão com a natureza. Talvez seja por isso que, em determinados trabalhos, exista uma relação mais direta com o mundo animal, procurando possíveis analogias entre o domesticado e o indomável, o selvagem ou o instintivo.
Respondendo à mesma complexidade destas relações, as ideias materializam-se de diferentes formas, criando narrativas não lineares que procuram abrir novas leituras. Os materiais que utiliza são muitas vezes encontrados ou recuperados, sublinhando as possibilidades de existir no mundo, onde corpos invisíveis revelam o que deixam para trás, como que reflexos de nós: roupas usadas, tecidos sintéticos que replicam a textura da pele, a ecdise de uma cobra; madeiras recuperadas, metais, pedaços de mármore de uma casa devoluta e outros desperdícios da indústria.
Bio:
Hernâni Reis Baptista estudou na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto
e expõe regularmente desde 2011, em exposições coletivas e individuais, tanto
nacional como internacionalmente. A sua obra está representada em coleções
privadas e públicas, nomeadamente a Coleção Frances Reynolds (Brasil), Fundação
Sandretto Re Rebaudengo (Itália), a Coleção Municipal de Arte da Câmara Municipal do
Porto ou a Coleção de Arte Contemporânea do Estado (Portugal), entre outras.
www.hernanireisbaptista.com
Running on Cargo