A Questão do Horizonte
João Pedro Amorim




O problema do horizonte descreve um paradoxo observacional: a radiação cósmica de fundo detetada em direções opostas do céu apresenta praticamente a mesma temperatura, apesar de essas regiões não poderem ter estado em contacto causal desde o início do universo. A luz — ou qualquer forma de informação — não teria tido tempo de viajar entre esses dois pontos, segundo o modelo cosmológico clássico. Entre as soluções propostas, destaca-se a teoria da inflação cósmica, segundo a qual o universo passou por uma fase inicial de expansão extremamente rápida, que teria uniformizado a radiação antes das regiões se separarem.

Esta exposição toma de empréstimo esse conceito físico para explorar fluxos de diferentes naturezas que atravessam a nossa experiência da realidade. A teoria descreve uma sucessão de fases energéticas que traduzem a expansão, dissipação e evolução do estado entrópico do cosmos. De modo análogo, A Questão do Horizonte acompanha os processos de produção, acumulação, despesa e dissipação dos fluxos — vitais, sociais, económicos, entre outros — a partir da abstração de imagens de encontros particulares, de exames médicos e de dados económicos. A física contemporânea (pelo menos algumas das suas escolas) assume que toda a informação – tudo o que ocorreu – está de alguma forma inscrita no tecido do universo, mesmo que inacessível à interpretação. E uma imagem? O que pode uma representação visual contar-nos sobre aquilo que representa? Ou, se não representar coisa alguma, sobre os processos que lhe deram origem, depois de um conjunto de distorções, apropriações e divagações mais ou menos poéticas?

Horizontes há muitos. Questões também.










Running on Cargo