Taxonomia, O Estado das Coisas
Sara Rodrigues e Rodrigo B. Camacho

 

TAXONOMIA
Sempre acreditei nos benefícios metodológicos (e até terapêuticos) de apagar e de deitar fora tudo o que posso. Por outro lado, o meu trabalho tem vindo a complexificar-se, e por isso desenvolvo-o ao longo de processos cada vez mais extensivos e densos. Com isto, e por influência maior do meu pai, que é antropomusicólogo, tenho hoje arquivados já quase mil pequenos fragmentos documentais destes processos de preparação, incluíndo estudos de notação, listas de instrumentação, planos cenográficos, guiões, esboços, gráficos, tabelas, diagramas, mapas, matrizes, sistemas sintáticos, funções e cálculos, esquemas de tradução e sonificação, etc.
TAXONOMIA interage com comunidades de músicos de lugares diferentes, com quem partilho a coleção no sentido de explorarmos questões relacionadas com as funções do signo e do símbolo na comunicação.
Abordam-se conceitos de notação, interpretação, improvisação, assim como se testam vários processos de realização, concretização, materialização, sonificação e tradução. Há também espaço para discussão e negociação de noções de necessidade, utilidade, eficiência e inteligibilidade.
Rodrigo B. Camacho

O ESTADO DAS COISAS
Durante duas semanas, convido vários músicos do ou no Porto a vir ao espaço para serem entrevistados sobre as suas primeiras memórias musicais, as mais marcantes e as mais recorrentes; sempre associadas a um lugar. Surge a pergunta final sobre o som mais memorável da cidade, o qual vou de seguida gravar e juntar a um banco a ser vasculhado e interpretado por outros músicos. 
Com o passar dos dias, o material que coleciono começa a moldar-se consoante cada participação, com respostas que vão sendo gravadas e recombinadas de formas diversas, gerando novas dinâmicas à medida que mais aparecem. Cria-se assim um mapeamento do que é mais relevante, para o todo. Penduro vários altifalantes no teto, dispostos consoante as coordenadas espaciais que marcam todo o chão do espaço em relação a um mapa do Porto à escala.







bio
Sara Rodrigues
Depois de ter estudado artes plásticas assim como música, os meus interesses criativos centraram-se entre a pesquisa e a composição audiovisual. Muitas das minhas peças atuais são criadas com, e a pensar em, pessoas, uma atenção que foi despertada quando comecei a compor para músicos específicos; amigos e conhecidos meus. Não estava só interessada nas suas capacidades musicais e performativas, mas no valor que reside nas características pessoais e nas experiências individuais de cada um, na nossa história de vida.

O gosto por estruturas maleáveis e abertas desenvolveu-se em composições com macro-estruturas que se preenchem com pedaços de vida e conteúdos únicos. Tento recorrentemente perceber questões complexas por vias de as desconstruir em pequenos fragmentos, utilizando técnicas com perguntas e opções que propõem ações de consequências indeterminadas. Com um interesse cada vez mais de cariz antropológico e sociocultural, tenho tentando perceber como é que a arte se pode intersectar com e afetar a vida quotidiana.

Rodrigo B. Camacho
Dizem que sou compositor de música estranha, da qual nos devemos aproximar com cautela. Os vários contactos que tive com sociologia e ciências políticas transformaram-me irremediavelmente. Sou um criador estruturalista e encontro prazer em pensar de forma minuciosa e sistemática.

Interesso-me por linguagem e por processos de transformação, com os quais articulo tudo o que posso em cada peça, desde o cerne conceptual aos níveis mais superficiais da estética.

Vivo de uma forma um tanto o quanto violenta e por vezes até bruta, contudo, é desde que me lembro que a complexidade e o inter-relacionamento de todas as coisas me fascinam de igual modo.

Running on Cargo