Sombras Venéreas 
Rodrigo Neto

 

IV.
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[Vénus]~~~~~
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Astro do amanhecer, do eterno mistério e noite, carroça do além, belas são as nuvens que me derretem os olhos. Belas e não poucas. Nos três dias que te chorei senti-me completo e soube que sobrava e tive pena. Pena de sonhar com o teu oceano sem luar, perdido na neblina vulcânica, um nadinha mais leve e simples como o sol. Pena de saber que tudo é irracional e ritmo e vibração e que tudo é corpo celeste na voragem do tempo, e pena de ter pena de me ter deixado adormecer na tua sombra, e nela não poder ficar dormindo, entre mercúrio e a terra.

V. Sombras Venéreas, uma exposição de Rodrigo Neto, trata dos anos de atelier que se seguiram ao surto psicótico que o levou a reencontrar de urgência a sua mortalidade na ala de psiquiatria do hospital da Guarda, cidade onde nasceu, num século cheio de certezas e promessas tão vazias como o universo.I. Venéreo

adj.
def. Relativo a ou de Vénus.



bio
Nasceu na cidade Guarda em 1980, mas preferia ter nascido numa Europa entre duas das suas guerras.  É pintor porque nunca lhe ofereceram outro ministério, desempenha as suas funções com o entusiasmo de Sísifo e sonha com o dia em que possa abrir uma casa de alterne numa estação espacial, onde o sangue derramado de cosmonautas em zaragatas ébrias  seja limpo com serrim de magnólia, caudas de cometas e vinagre de alecrim.



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